segunda-feira, 23 de julho de 2012

Discutindo o final de RE: Operation Raccoon City

Discutindo o final de RE: Operation Raccoon City.

E se Leon tivesse morrido em Raccoon City?

"Leon estava fugindo de seus perseguidores pelas ruas de Raccoon. Sem olhar para trás, ele ouvia os passos daqueles agentes de roupa preta que, sem mais explicações, atiravam contra ele e pareciam querer sua morte. A delegacia de polícia, próxima, poderia ser um local seguro, ou pelo menos, os outros oficiais do local seriam capazes de auxiliar no combate àqueles soldados.
A R.P.D., porém, estava deserta. Em frente ao portão principal da estação, Leon só teve tempo para ouvir passos que vinham em sua direção e se virar para atirar. Ele não viu seu atacante, mas sentiu quando a lâmina afiada de uma faca de combate o cortou diretamente no peito e o levou ao chão.
Agonizante, quase sem sentidos e com a visão embaralhada, o policial novato ainda pensava por que estavam fazendo isso com ele. Aqueles terríveis olhos azuis, porém, não lhe deram a resposta. Mas mostraram um pouco de misericórdia ao encerrar o sofrimento de Leon com um tiro de rifle direto na testa."
As cenas descritas acima podem estar na sua imaginação, em uma fanfic ou até mesmo em um dos trailers de Resident Evil: Operation Raccoon City. Por motivos inexplicáveis, porém, a cena que mostra a morte de um dos personagens mais queridos da saga é tudo, menos impactante. E foi um dos principais motivos para a baixa nota recebida pelo game em nossa análise, publicada há algum tempo.
Neste artigo, se é que dá para chamá-lo assim, deixo o profissionalismo um pouco de lado para discutir, de forma bem pessoal, que diabos é aquele encerramento criado pela Slant Six para Resident Evil: Operation Raccoon City. Um final que, independente de qual seja a sua escolha com relação a Leon, é o pior já visto em um game da franquia.

Cortes secos e falta de sentido

A última fase de Resident Evil: Operation Raccoon City é bastante interessante. Após ter sido abandonado pela Umbrella, o Wolfpack se vê obrigado a acatar as ordens da empresa mais uma vez de forma a garantir sua evacuação segura da cidade. Para conseguirem escapar do caos, devem matar Leon – que obteve informações privilegiadas sobre a companha – e sequestrar Sherry – que carrega agora a única amostra do antígeno contra o G-Vírus.

Discutindo o final de Resident Evil: Operation Raccoon City
Você decide se Leon morre ou não
Apesar de demonstrarem de forma velada seu descontentamento com a empresa, os agentes do U.S.S. em nenhum momento discutem sobre esse jogo de confiança nem mesmo dão nenhum sinal de que são contra as ordens. Isso causa uma grande estranheza quando, após derrotarem uma grande tropa de Spec Ops, o jogador deve escolher se os soldados matarão ou protegerão Leon.

A escolha vem assim, sem mais nem menos. E fica pior. O policial novato está ferido, caído ao chão e com uma arma apontada para sua cabeça. Ele tenta conversar com os soldados, perguntando a eles o que eles ganhariam com o assassinato. Mas não funciona. Você faz a escolha e…
Tela preta. Corte seco. O jogo recomeça em um cenário completamente alheio, diferente do que os personagens estavam anteriormente. De um lado, está Leon acompanhado de dois agentes do Spec Ops. Do outro, o restante do esquadrão. Agora, eles devem lutar entre si.
Pela cabeça da Slant Six, não passou que, talvez, seria necessário explicar essa repentina mudança. Afinal de contas, por que estamos sendo atacados por aqueles que agora foram nossos companheiros? Como metade do time achou que seria melhor defender Leon, enquanto a outra metade prefere seguir a missão original e matar o policial?
Gameplay de Resident Evil: Operation Raccoon City mostra a caçada a Leon
Simplesmente não faz sentido algum, e essa sequência de eventos mostra, no mínimo, um grande menosprezo para com o enredo do game. Ao mesmo tempo em que a Slant Six se mostrou extremamente respeitosa com o canon de Resident Evil e foi capaz de reproduzir até mesmo pequenos detalhes, mostrou que não se preocupa nem um pouco com a história de seu próprio game, transformando-o em uma rasa experiência de tiroteio.
Não adianta dizer que é isso que o público quer. Os dois maiores jogos de tiro do ano passado, Call of Duty: Modern Warfare 3 e Battlefield 3, contam sim com enredos elaborados. São tramas que, apesar de extremamente curtas, passam para o jogador que toda aquele tiroteio faz parte de algo muito maior. As ações do jogador fazem um certo sentido e estão inseridas em um contexto, mesmo que ele dure apenas seis horas.
Resident Evil: Operation Raccoon City mais parece um filme de Michael Bay do que um game da série. A ideia aqui não é entreter o jogador com uma experiência profunda ou deixa-lo empolgado com reviravoltas no roteiro. O negócio, para a Slant Six e a Capcom, foi pegar ícones da franquia, dar uma metralhadora na mão de cada um, e fazer com que eles saiam atirando contra os inimigos. Nada além disso.
Há quem goste desse estilo. Mas eu, particularmente, já passei da fase de gostar de um game apenas por que ele tem personagens “fodões” ou armamento pesado. Quando coloco um título no meu console, eu quero ser capturado pelo pescoço por ele. Não tenho mais tanto tempo assim para jogar e, quando me dedico a um título, quero ser submetido a uma experiência de qualidade.

Final sem final

O combate completamente sem sentido é seguido por um final que conclui muito pouco e passa a impressão de que a Slant Six não finalizou o game. Não temos uma cena de corte para encerrar o game. Aliás, onde foram parar todas aquelas cenas de corte exibidas nos trailers?


Caso você escolha defender Leon, o encerramento até é melhor. O Wolfpack tenta chantagear a Umbrella para garantir que sejam retirados de Raccoon, mas a negociação fracassa e todos, incluindo o policial, Claire e Sherry, são deixados à própria sorte. Os membros da U.S.S. se mostram com sede de vingança e afirmam que seu objetivo agora é destruir a empresa.

Tudo muito bonito no texto, mas não sabemos se esse povo todo realmente conseguiu fugir. Leon está ferido e sendo carregado por Claire e é possível que o Wolfpack tenha seguido seu próprio caminho. Ou não, todos podem ter se auxiliado pelo objetivo comum: fugir de Raccoon City. Entenderam o problema? Simplesmente não existe um final conclusivo, e o game deixa uma porta desnecessariamente aberta.

A coisa piora caso você escolha matar Leon. O policial nem mesmo é assassinado em uma cena de corte, e o combate final é cortado para uma cena em que o personagem já está morto no chão. Claire leva um tiro logo depois, mas, inexplicavelmente, a tela fica escura antes disso acontecer e ouvimos apenas o som do tiro.

Discutindo o final de Resident Evil: Operation Raccoon City

Onde está a apoteose que deveria envolver o fim dos dois personagens? Este era o momento ideal para que a Slant Six mostrasse toda a qualidade das cenas em CG – que nem mesmo foram criadas pela desenvolvedora, diga-se de passagem – e criasse um vídeo que ficaria para sempre na memória dos fãs. Resident Evil: Operation Raccoon City poderia ser um marco na série apenas por esse final.

No fim das contas, o título é sim um marco. Mas pelos motivos errados. É uma amostra que a Slant Six é incapaz de aprender com seus erros ao utilizar uma engine criada em 2008 e que não evoluiu nada com o passar dos anos. E é uma lembrança que, se muitos já acham que estamos ruins com Resident Evil nas mãos da Capcom, poderíamos estar muito piores com outras desenvolvedoras.

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