Especial God of War: a história de Kratos
A partir de terça feira, 13 de setembro, os donos de Playstation 3 terão mais uma excelente coletânea a sua disposição: God of War Origins Collection, que contará o começo da jornada do protagonista Kratos, um personagem que se tornou símbolo dos videogames da Sony.
Nesta coleção, estarão inclusos dois games que até então eram exclusívos para os donos de PSP: Chains of Olympus e Ghost of Sparta, títulos que contam o começo da trágica jornada do antigo herói grego, que foi consumido pela fúria, dominado pela mágoa e libertado pela coragem.
Antecipando este aguardado relançamento, nós ajudaremos você, caro leitor, a relembrar a história de Kratos ao longo dos seis games da série. Nesta cronologia, vamos contar revelações sobre o enredo dos jogos (spoilers), então, caso você não tenha jogado algum dos games, talvez queira pular partes deste texto para não perder o efeito surpresa – caso contrário, basta continuar lendo para saber como a força de um espartano conseguiu abalar as estruturas do Olimpo.
This is SPARTAAAA!!!!
Antes de começarmos a falar dos games, vale fazer uma breve explicação sobre mitologia: na antiguidade clássica, os gregos entendiam os fenômenos do mundo através de mitos, que incluiam deuses, semideuses e heróis; ao contrário de muitas religiões atuais, a fé da época era majoritariamente politeísta, ou seja, em vez de um Deus único, havia um panteão cujos integrantes representavam vários aspectos da natureza e até conceitos abstratos. Esta forma de explicar o mundo foi muito importante para o desenvolvimento do pensamento ocidental.
Apesar de viver neste cenário fantástico, Kratos não fez parte dos mitos clássicos – ele é uma criação do estúdio Santa Monica, interpretado pelo ator britânico Joseph Gatt (que fez a captura de movimentos do personagem) e dublado pelo americano Terrence Carson, que deu vida aos berros do herói.
O Kratos, ou Cratus, da mitologia, é originalmente filho do titã Palas, filho de Crio; e Estige, uma ninfa, filha de Tétis. Irmão de Niké (Vitória), Bias (Força) e Zelo (Grandeza e Rivalidade), o Kratos mitológico era a personificação do Poder, o que inspirou David Jaffe, diretor da série, a direcionar os games da franquia, que seguiram cronologia própria e bastante diferente da tradição grega.
Porém, apesar deste distanciamento da mitologia original, a franquia GoW acabou se tornando uma alegoria para vários conflitos interpressoais bastante contemporâneos, como a consequência de ações intempestivas que só podem ser sanados mediante grande sacríficio – e não poderia ser diferente, já que, como muitas histórias da época, o Kratos dos videogames é um exemplo de herói trágico.
Problemas com a família
Profecias antigas previam que o crepúsculo dos deuses gregos ocorreriam pelas mãos dos furiosos Titãs. Porém, segundo a visão de um oráculo, o fim do Olimpo não se daria por estas criaturas, mas sim pelas mãos de um mortal. Zeus, soberano dos deuses, acreditava que este mortal seria o guerreiro Deimos, por conta de suas estranhas marcas de nascença.
O jovem Deimos, que junto com seu irmão Kratos treina para fazer parte do exército espartano, é sequestrado pelo deus da guerra Ares. Seu irmão tenta impedir o rapto, mas sofre uma derrota que deixa marca em seu olho esquerdo. Deimos é levado para o reino da morte, onde é torturado por Thanatos.
Acreditando que seu irmão está morto,Kratos faz uma série de tatuagens vermelhas, imitando as marcas de nascença de Deimos. Os anos passam, e Kratos consegue se tornar um jovem capitão do exército espartano, uma organização militar conhecida pela sua tenacidade.
Durante a campanha contra uma horda de bárbaros, o Kratos foi encurralado e estava prestes a ser morto. Porém, na hora do aperto ele evocou o nome de Ares, rogando força para destruir seus inimigos em troca de servidão ao então deus da guerra.
Ares fez a sua parte, e permitiu que Kratos liberasse um ciclone de destruição,rechaçando seus inimigos. Porém, o preço do poder veio junto com o bônus: a partir daquele momento, o mortal estava acorrentado às Lâminas do Caos, que lhe davam poder ao mesmo tempo que eram o símbolo de sua servidão.
O fantasma de Esparta
Kratos serviu Ares com devoção, matando centenas em nome do olimpiano. Porém, dedicação não era suficiente para o deus da guerra: ele queria uma máquina de matar focada, que o seguisse cegamente, o guerreiro perfeito. Para isto, alguns “obstáculos” precisavam ser removidos do caminho, como a ligação de Kratos aos demais mortais.
Para eliminar esta fraqueza, Ares enganou Kratos e fez com que ele, cegado pelo instinto assassino, tirasse a vida de sua mulher e filha, que estavam escondidas no templo localizado em uma vila castigada pelo combate. Percebendo a consequência de suas ações, Kratos renuncia a servidão a Ares, mas acaba sendo amaldiçoado pelo oráculo da vila a carregar a cor das cinzas dos mortos em sua pele.
Buscando a redenção, Kratos concorda relutantemente em servir outros deuses em troca do perdão pelos seus crimes. Ele luta em Attica contra a invasão do exército persa e consegue evitar a tomada da cidade. Porém, sobra pouco tempo para comemorar a vitória, já que após a batalha, o mundo acaba coberto de trevas graças ao estranho desaparecimento do deus sol Hélios.
As correntes do Olimpo
A nova missão do guerreiro é descobrir o paradeiro de Hélios, que coloca o personagem em rota de colisão com o titã Atlas, sequestrador da divindade. Durante esta jornada, Kratos é tentado pela deusa Perséfone, que habita o Hades após ter sido abandonada por Zeus. A deusa possibilita o encontro do espartano com sua falecida filha, mas esta reunião de família poderia resultar no fim do mundo como o conhecemos, já que Atlas aproveitou a distração de Kratos para utilizar o poder de Hélios em um plano que destruiria o pilar que sustenta o monte Olimpo.
Forçado a escolher entre a sua filha e os deuses, Kratos fica com a segunda opção, matando Perséfone e prendendo Atlas no pilar do mundo e sofrendo, uma vez mais, com a separação – desta vez definitiva.
Acertando as contas com Ares
A próxima missão do espartano foi dada diretamente por Athena. Quando sua cidade, Atenas, estava sendo destruída por Ares e seus exércitos, a deusa recorreu a Kratos, dando-lhe a tarefa de matar o deus da guerra em troca do perdão pelos seus pecados. Porém, Kratos ainda era mortal, e para acabar com Ares ele precisava de uma fonte adicional de poder, algo que pudesse derrotar até mesmo um residente do olimpo.
Começa assim a busca pela lendária caixa de Pandora, um item lendário que poderia fazer a balança pender a favor do espartano. Depois de passar por uma série de testes, Kratos recupera o artefato e consegue derrotar Ares, mas matar o deus traz pouca satisfação ao guerreiro, que se vê novamente deprimido.
O problema é que, mesmo após executar a tarefa dada por Athena, Kratos ainda é assombrado pelas visões do passado, já que alguns atos são tão terríveis que nem mesmo os deuses conseguem apagá-los. Por conta disso, Kratos resolve acabar com o seu sofrimento pulando de um precipício.
Mas antes que a queda fatal chegasse ao fim, ele é resgatado por Athena, que oferece a ele o posto de deus da guerra. Kratos então passa a ocupar uma cadeira em meio aos olímpicos, sentando lado a lado aos seus antigos mestres.
Em busca do passado
Mas nem mesmo o novo status divino conseguiu aplacar a angustia no coração do espartano, por isso ele decidiu se reconciliar com o passado. Contrariando o conselho de Athena, Kratos iniciou uma jornada até a Atlântida em busca de sua mãe, Callisto.
Quando Calliope estava prestes a revelar ao espartano a identidade de seu pai, ela foi transformada contra sua vontade em uma besta horrenda, e Kratos teve de matá-la, ficando sem as respostas que tanto desejou. Mas antes de morrer, Calliope conseguiu revelar que Deimos ainda estava vivo, dando início a uma nova aventura.
Kratos partiu ao encontro do seu irmão perdido, e no caminho libertou a titã de magma Thera de sua prisão em um vulcão sob Atlântida, o que resultou da destruição cidade.
Kratos descobre que precisa ir até os domínios da morte para localizar Deimos. Chegando lá, ele localiza e liberta o irmão, que ataca Kratos, culpando-o pelo seu longo encarceramento. O confronto é breve, e logo os dois juntam forças para enfrentar Thanatos, o deus da morte em pessoa. Thanatos consegue matar Deimos, mas Kratos derrota o deus da morte. Kratos está novamente sozinho, por culpa dos deuses, o que o faz prometer que todos pagarão pelo seu sofrimento.
Traição olímpica
Entediado com sua vida no olimpo, Kratos deleita-se ao assistir o exército de Esparta marchar pela Grécia. A deusa Hera manda o gigante Argos confrontar o deus da guerra, iniciando um complô para que Kratos perdesse moral no Olimpo. Os deuses mandam o mensageiro Ceryx, filho de Hermes, levar um recado de Zeus para o espartano, pendindo que ele parasse seus esforços de conquista, que poderiam resultar na destruição da Grécia.
Kratos não dá ouvidos ao mensageiro. Os dois se engajam em batalha e Kratos sai vitorioso. Porém, ele sabe que a morte de Ceryx não ficará impune, e aguarda a retaliação dos demais deuses.
O colosso de Esparta
Deixando os deuses de lado, Kratos se junta ao exército espartano durante a batalha de Rhodes. Lá, ele é atacado pela gigantesca estátua que defende a cidade. Para derrotar este colosso, Kratos ouve o conselho de Zeus e deposita o seu poder na Espada do Olimpo.
Quando Kratos consegue destruir o construto, Zeus engana o espartano e, tomando a Espada do Olimpo, crava a arma carregada do seu próprio poder na barriga do espartano.
Aqui se recria um ciclo constante da mitologia grega: Kratos descobre que é na verdade um filhos bastardo de Zeus, o que o torna um semideus. E Zeus, assim como o seu pai Cronos, tenta liquidar o filho que pode destroná-lo. Para Zeus, a morte de Kratos seria uma forma de evitar esta sequência de eventos.
Sem vida, Kratos vai para o submundo, mas consegue fugir do local mais uma vez, por pura determinação. Ele jura vingança contra Zeus, mas quando tem uma chance clara de matar o soberano do olimpo, é impedido por Athena, que absorve o impacto do golpe de Kratos e morre.
Irado, Kratos inicia uma campanha contra todos seres olímpicos. Para sitiar a morada dos deuses, ele domina as fiandeiras do destino e tece uma nova trama do tempo, se colocando no passado, durante a Titanomaquia, a batalha dos Titãs contra os deuses, vencida originalmente pelos habitantes do Olimpo. Com novos e poderosos aliados, Kratos coloca os deuses contra as cordas, preparando um nocaute definitivo de Zeus e seus subordinados.
Vingança e fúria
Montado no corpanzil de Gaia, Kratos lidera o ataque. Ele consegue matar Poseidon e fura a primeira linha de defesa divina. Porém, quando a batalha se intensifica, a própria Gaia não se acanha em sacrificar o aliado por uma posição mais vantajosa. Outra vez Kratos foi traído. Outra vez ele está sozinho. Desta vez, o azar será de seus inimigos.
Kratos inicia uma chacina, matando deuses, semideuses, heróis, titãs e mortais sem distinção. Cada inimigo tombado traz consequências terríveis para o mundo, já que os deuses mortos respondem por aspectos importantes da vida na terra. A Grécia está um caos, e neste caos, Kratos continua a marcha da vingança até ser visitado pelo espírito de Athena, que transcendeu para uma existência superior e passa a apoiar Kratos na batalha do crepúsculo dos deuses.
Para que ele consiga seu objetivo, Athena guia Kratos até a Chama do Olimpo, que tem o poder para destruir Zeus. Porém, a chave para a chama é Pandora, antiga proprietária da lendária caixa que deu poderes para o espartano matar Ares tempos atrás.
Redenção
Kratos atravessa o labirinto de Dédalo e resgata Pandora, com quem rapidamente desenvolve uma relação paternal. Este carinho pela garota faz com que Kratos hesite ao perceber que apenas o sacrifício dela pode domar a chama, mas apesar dos protestos do guerreiro ela conclui seu propósito, permitindo que ele abra a caixa de Pandora, apenas para encontrar o recipiente vazio.
Nesta hora Zeus ataca. Gaia intervém e os três começam uma luta sangrenta. Zeus e Kratos entram no Titã através de uma ferida aberta, e Kratos consegue empalar Zeus no coração de Gaia, que se desfaz. Pensando que Zeus também está morto, Kratos parte, mas é atacado pelas costas.
Zeus se aproveita da vantagem e neutraliza Kratos, que fica inconsciente. Um duelo mental se inicia, e Kratos encontra esperança na lembrança de Pandora para derrotar Zeus definitivamente.
O espírito de Athena aparece novamente, congratulando Kratos e exigindo que ele entregue para ela a mais poderosa das armas, que ele retirou da caixa de Pandora para poder derrotar Zeus. Kratos argumenta que a caixa estava vazia, mas rapidamente percebe que Athena se refere a esperança, a última coisa que foi retirada da caixa, e que agora está nele.
Mas Kratos sabe que o mundo não pode ser governado por deuses ou entidades distantes. Desafiando Athena, ele crava a Espada do Olimpo no próprio corpo, fazendo um grande corte que permite que a esperança seja libertada no mundo, o que dá início a uma nova era, a era dos mortais, que reconstroem a Terra arrasada graças a sua persistência e autonomia recém conquistada.
O futuro a Zeus pertence…
Existe muito debate sobre o final de God of War III. Não há um consenso se o sacrifício de Kratos foi definitivo: afinal, ele morreu ou não? Além disso, para um homem que escapa do inferno como quem sai pela porta da frente de um Shopping vazio, será que a morte seria permanente?
Por enquanto, God of War III é o desfecho da saga, mas quem sabe no futuro esta história não ganha novos capítulos? Se eles forem tão interessantes quando a mitologia já construída pelo estúdio Santa Mônica, com certeza os fãs não se importariam em controlar o herói mais uma vez. Caso contrário, é melhor que Kratos tenha um merecido descanso, e fique na história como o grande herói que de fato é.
Fonte: TechTudo
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